segunda-feira, 4 de julho de 2011

Guimarães em Tempo de Guerra IV


Foi com pequenas escaramuças que se começou a sentir o princípio da Guerra Civil em Guimarães. Em 1826, liberais e absolutistas defrontavam-se pelas ruas das cidades portuguesas, deixando antever o que iriam ser os anos seguintes para Portugal.

Em 1827 os dois irmãos, D. Miguel e D. Pedro, chegariam a um acordo e D. Miguel seria nomeado regente de Portugal (isto após ter jurado a Carta Constitucional e se ter comprometido a casar com a sua sobrinha, D. Maria). O regresso de D. Miguel a Portugal, agora como regente, deixou ficar muitos dos constitucionais apreensivos. Contudo, alguns dos constitucionais vimaranenses mais optimistas, chegaram mesmo a levantar uma bandeira no Toural para comemorar a chegada de D. Miguel ao reino e o juramento da Carta Constitucional. A 31 de Janeiro de 1827 D. Miguel é aclamado em Guimarães como Rei de Portugal.

À medida que o ano de 1828 ia avançando, tornava-se claro que D. Miguel não tencionava cumprir as suas promessas. Ao dissolver a Câmara dos Deputados, em Março de 28, D. Miguel passava por cima da Carta e acabava com as ilusões dos poucos constitucionais que acreditavam nas suas boas intenções. Pouco tempo depois, em Maio, convocaria as Cortes à maneira antiga, não deixando dúvidas aos constitucionais sobre aquilo que pretendia.

Em Guimarães, os absolutistas celebravam o regresso do seu Rei, saindo à rua em festa, entre repiques de sinos e foguetório. Os constitucionais, inconformados com a situação, conspiravam em diversos pontos da vila. Quando a 16 de Maio de 1828 se dá um pronunciamento militar no Porto, os constitucionais vimaranenses apressaram-se a juntar-se aos militares revoltosos.

No dia 1 de Junho, após a entrada do Cavalaria 12 em Guimarães, D. Pedro IV era aclamado como rei, sendo o auto de aclamação assinado por 94 pessoas das quais 55 eram militares. No dia 7 do mesmo mês, Jerónimo Vaz Vieira de Melo e Alvim e Nápoles (um dos maiores apoiantes do liberalismo vimaranenses, também conhecido por “fidalgo do Toural”), na qualidade de comandante do 4º Batalhão de Voluntários Reais de D. Pedro IV, chamava o povo às armas, convidando-o a alistar-se no referido Batalhão. O “fidalgo do Toural” tinha razões para o fazer, pois não se avizinhavam tempos fáceis e eram necessários homens para a guerra.

Nos finais de Junho, Guimarães cairia, sem grande resistência, nas mãos dos absolutistas, com a entrada na vila do Coronel Raimundo José Pinheiro. No dia 27 era a vez dos constitucionais tomarem o poder, pela mão do Coronel António Inácio Cayola. A entrada do Coronel Cayola em Guimarães fez-se com facilidade pois, de acordo com um relato da época (feito por um liberal), Cayola desbaratou as tropas de Raimundo que se refugiariam nos arredores da vila.

Apenas um dia após a sua retirada, os soldados absolutistas entrariam subitamente na vila, com o intuito de surpreender os constitucionais. O sucedido é relatado por Silva Maia nas suas “Memórias (…) da Revolução do Porto” (ed. de 1841) da seguinte forma: “[as tropas absolutistas] pretenderam surpreender os constitucionais; [caíram furiosas] sobre estes, sem a menor disciplina, entregando-se como frenéticos nas bocas de fogo; o Coronel Raimundo, seu chefe, lhes havia distribuído muito vinho e neste estado de embriaguez é que o inimigo veio fazer o ataque; é fácil prever qual seria o resultado: 260 ficaram mortos, porque sem temerem a metralha vinham colocar-se diante da artilharia, animados, alem da embriaguez, pelos frades Dominicanos de Guimarães”. De acordo com a mesma fonte, depois deste massacre, os constitucionais vimaranenses, furiosos com os frades de São Domingos, saquearam o seu Convento “e mataram nove frades”.

Com um exército menos numeroso que o dos absolutistas, sem lideres militares capazes, sem chefias políticas e com algumas divergências internas à mistura, os constitucionais acabariam por ser vencidos. No Minho, foram as tropas do General D. Álvaro de Sousa Macedo a derrotarem os constitucionais que ainda tentavam defender as localidades recentemente dominadas. No dia 7 de Julho, D. Álvaro já se encontrava em Guimarães e, no dia 16 do mesmo mês, D. Miguel era, novamente, aclamado pelos vimaranenses como rei de Portugal.

Os constitucionais, derrotados, fugiriam para Espanha, ou tentariam esconder-se no interior do país. Ao chegarem à Galiza foram desarmados e intimados pelas autoridades espanholas a abandonar o território em trinta dias. Caso não o fizessem seriam presos e entregues às autoridades portuguesas. Desesperados procuraram solucionar a situação em que se encontravam. Os mais abastados emigrariam para Inglaterra. Jerónimo Vaz Vieira - o fidalgo do Toural - fugiria para a Terceira, onde viria a falecer em 1829. Os outros, aqueles que se tentaram esconder em Portugal, viveram momentos bastante delicados. Só em Guimarães, por terem estado envolvidos na revolta de 16 de Maio, foram pronunciados mais de cem constitucionais. Foi-lhes dada ordem de prisão e de sequestro dos seus bens.

Com as prisões dos apoiantes de D. Pedro, começaria um período que ficou conhecido como “o terror miguelista”. Encontrava-se a morte nas prisões e nas ruas. A guerra fratricida e a violência iriam continuar, fustigando um povo que nem sempre foi de “brandos costumes”…

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