segunda-feira, 4 de julho de 2011

Guimarães em Tempo de Guerra VI


Em 1829, com o auge da Guerra Civil a aproximar-se, vivia-se um clima de profunda divisão política. Como já referi, as rivalidades políticas estavam em todo o lado: nas instituições, nas ruas e até nas famílias.

Na Santa Casa da Misericórdia de Guimarães, por exemplo, o Provedor Fortunato Cardoso de Menezes Barreto (Major do Batalhão de Voluntários Realistas e um dos mais acérrimos miguelistas vimaranenses), propôs, a 17 de Março de 1829, a expulsão do cónego João Baptista Gonçalves, de José Fortunato Ferreira de Castro, de Joaquim Pinto Teixeira de Carvalho, de Jerónimo Vaz Vieira de Melo e Alvim (Fidalgo do Toural), de Manuel José Ferreira Marranico, de José Joaquim de Sousa Peralta, de Mateus de Passos Lima e de Domingos José Soares, por não haver “notícia certa da sua estada, ou domicílio” (estavam fugidos) e por ser “público e bem notório que todos estes se achavam envolvidos em crimes políticos, e alguns já presos por matéria de rebelião, contra a Augusta Soberania de El-rei o senhor D. Miguel I Nosso Senhor”. A Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira ficaria sem o seu Cónego Mestre-Escola, João Manuel da Guerra, preso por ser constitucional em 1828. Cerca de um ano depois, em Julho de 1829, os Cónegos da Colegiada (à época todos miguelistas) recebem de D. Miguel a medalha com a sua Real Efígie, sendo desta forma premiada a sua fidelidade ao Rei.

Nas ruas a violência continuava e existem diversos relatos de constitucionais mortos ou espancados a pretexto das suas “opiniões políticas”. Entretanto, iam chegando notícias das mortes nas prisões miguelistas, deixando muitas famílias enlutadas. Era precisamente no seio famílias que a expressão “guerra fratricida” fazia mais sentido. Várias foram as famílias que, durante este período, se viram divididas por questões políticas. Os irmãos Henrique e Domingos Cardoso de Macedo (Casa de Margaride) foram um desses casos, embora sem consequências de maior. Henrique era apoiante dos liberais e Domingos era miguelista e Capitão-Mór de Guimarães, tendo a seu cargo a responsabilidade de prender os constitucionais fugidos ou pronunciados. Tanto quanto se sabe, terá sido moderado para com o seu irmão mais novo, não o prendendo ou desamparado.

Muitas destas famílias, vendo os seus filhos presos pelos Miguelistas, não hesitavam em dar donativos, em dinheiro ou em géneros, ao exército de D. Miguel. Se é certo que umas o faziam por pressões (quem tivesse possibilidades e se recusasse a contribuir para o exército miguelista ficaria mal visto), outras faziam-no por convicções políticas, que mantinham apesar de verem presos os seus parentes. Um dos casos mais paradigmáticos destes antagonismos políticos no seio das famílias foi o de Damião Pereira da Silva de Sousa e Menezes. Sendo Juiz de Fora em Guimarães no ano de 1828, ordenou a prisão de centenas de constitucionais vimaranenses. D. Miguel, reconhecendo os seus serviços e fidelidade, concedeu-lhe a Medalha de Sua Real Efígie em 1829. Continuou a bater-se por D. Miguel e pelos valores em que acreditava. Contudo, terá ficado chocado, quando soube que o seu tio Francisco Sousa e Menezes, tinha sido assassinado à machadada por miguelistas na cadeia de Estremoz, onde se encontrava preso por opiniões políticas…

Apesar das prisões políticas e da violência nas ruas, a Guerra Civil ainda não tinha atingido o seu auge. Mas a oito de Julho de 1832, as tropas afectas a D. Pedro desembarcavam na praia de Pampelido. A nove do mesmo mês já estavam no Porto. Pouco tempo depois, o Porto encontrava-se praticamente cercado pelas tropas miguelistas. Assim se atingia o ponto alto da Guerra Civil.

Por esta altura sairiam de Guimarães centenas de homens para auxiliarem o exército miguelista nos combates com as tropas liberais. Muitos dos que voltavam para Guimarães, davam entrada no Hospital da Santa Casa da Misericórdia, gravemente feridos ou doentes. Na Vila de Guimarães ouvia-se regularmente “fogo para as partes do Porto”. A população vivia em sobressalto constante, ao ver as levas de homens que saiam para combater as “guerrilhas” constitucionais que actuavam na Falperra e nas serranias de Fafe. Os tempos eram de Guerra.

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