quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Guimarães em Tempo de Guerra XII

Após vários episódios relevantes da Maria da Fonte e da Patuleia (a Guerra Civil que se seguiu à revolta da Maria da Fonte), nomeadamente a sangrenta tomada de Braga pelo Barão do Casal (afecto ao Governo) e a fuga do «rebelde» miguelista Macdonnell, o Padre Casimiro José Vieira, «Defensor das Cinco Chagas e Comandante Geral das Forças Populares do Minho e Trás-os-Montes», regressaria a Guimarães. O Padre-General movimentava-se com todo o cuidado e procurava informar-se das posições do inimigo (as forças governamentais que se opunham à «revolução» popular). O receio era justificado. Em finais de Dezembro de 1846, corriam rumores que o General Barão do Casal ao tomar Braga (apesar de ter tentado evitar o combate), tinha dado ordens para que não se poupasse ninguém. Outra má notícia assustava o Padre Casimiro: dizia-se que tinha fugido para Guimarães o seu aliado General Macdonnell (um excêntrico que Camilo Castelo Branco descreveu como um bêbedo, estando sempre «muito rubro, naquela bebedeira crónica lhe assistiu na vida e na morte»). E dizia-se ainda mais: que o Barão do Casal, após a rendição do «povo» de Braga, tinha dado ordem para que não se fizessem prisioneiros, passando mais de trezentos homens «a fio de espada».

As notícias do massacre de Braga perturbaram, certamente, o Padre Casimiro que, poucos dias depois, sem saber muito bem o que fazer, se dirigiu primeiro a Vieira e depois a Guimarães. Em Guimarães tinha estado na Casa do Arco o General Macdonnell, que, entretanto, viria a retirar-se com o seu exército para Amarante. Pouco tempo depois seria assassinado em Vila Pouca de Aguiar.

É neste contexto de uma guerra quase perdida, que o «Defensor das Cinco Chagas» faz «duas surtidas» a Guimarães. Dizia um seu companheiro que «trazia ordens para [irem] primeiro a Guimarães dar vivas ao Senhor D. Miguel (…) porque era lá onde estavam os grandes recursos [munições e pólvora]». O Padre Casimiro acedeu e passaria por Guimarães para «receber a pólvora». Recebida a pólvora, o «Defensor das Cinco Chagas», andaria pelos arredores de Guimarães sem disparar um único tiro. A excepção foi uma escaramuça perto de Gonça onde, segundo o relato do Padre, se formou um batalhão de voluntários que ele comandava e que se terá envolvido num tiroteio serrado com a tropa de Guimarães. O recontro é descrito da seguinte maneira: «começou então um pequeno tiroteio com as vedetas, vendo-se outra porção de serzinos cortar-nos a retaguarda pelo único ponto por onde podíamos retirar (…) como levávamos mui pouca pólvora (…) e estava a findar a que levávamos, tratamos de retirar a toda a pressa, mas no maior risco e cobertos de um dilúvio de balas despedidas a distância de um tiro de pistola, que não sei como pudemos escapar.». Apesar da dificuldade enfrentada, um dos correligionários do Padre Casimiro por alcunha o «Caneta» queria por toda a força almoçar ali mesmo, no local do combate com o «povo». Num gesto de lucidez, o «Defensor das Cinco Chagas» preocupou-se com a defesa da vida dos seus homens e não cedeu às reivindicações gastronómicas do «Caneta». Pouco tempo depois, o Padre Casimiro José Vieira abandonaria o «Caneta» porque este metia o seu exército «em contínuos perigos». Na verdade, sem líderes capazes (Macdonnell tinha morrido) e sem meios, o «Defensor das Cinco Chagas» pouco podia fazer. A guerra estava quase terminada. E o Padre Casimiro era um dos vencidos.

Enquanto General, o Padre Casimiro José Vieira não regressaria mais a Guimarães. E o mesmo aconteceria com a Patuleia, a segunda Guerra Civil que Portugal teria num espaço de 12 anos.

Sem comentários:

Enviar um comentário