domingo, 12 de fevereiro de 2012

A Monarquia do Norte em Guimarães - III: o último dia.



A 19 de Janeiro de 1919 teve início no Porto um movimento militar  (e também civil) que ficaria conhecido como "Monarquia do Norte". Em Guimarães o Presidente da Câmara em exercício durante o sidonismo, Dr. João Rocha dos Santos, afirmava perante um novo Governador Civil de Braga a sua lealdade ao regime monárquico o que, num primeiro momento foi aceite, enquanto a partir do Porto se organizavam os novos núcleos políticos monárquicos.
A 23 de Janeiro, organizado o movimento, o Governador Civil de Braga demitiu Rocha dos Santos e escolheu alguns dos mais indefectíveis monárquicos vimaranenses para formarem a Comissão Administrativa que, daí em diante, passaria a administrar o concelho de Guimarães. A comissão integrava António de Azevedo Machado, Dr. António Maria do Amaral Freitas (Guardal), Alexandre Martins da Costa Silva (Taipas), Augusto Pinto Areias, Francisco Salgado (Vizela), Gaspar Pereira Leite de Magalhães Couto, João Veloso de Araújo, Dr. José Joaquim de Oliveira Bastos, José Joaquim Vieira de Castro e Manuel de Castro Sampaio (Sendello).
No dia 23 de Janeiro seria escolhido para Presidente da Comissão Administrativa (e para Presidente da Câmara) o Dr. José Joaquim de Oliveira Bastos. Monárquico irredutível, chegou a conhecer pessoalmente Paiva Couceiro e, ao que parece, terá estado ligado às incursões monárquicas de 1911 e 1912. Durante a I República afirmou-se sempre como monárquico e integrou algumas estruturas monárquicas de âmbito nacional, recusando exercer cargos públicos e políticos durante a República.  O cargo que agora assumia de Presidente da Câmara de Guimarães, não representava apenas a liderança de uma Câmara. Representava também o assumir da chefia do dia-a-dia político do núcleo monárquico de Guimarães, que contava com nomes extremamente influentes na sociedade de então, como o de Henrique Cardoso de Macedo Martins e Menezes (2º Conde de Margaride), Azevedo Machado (proprietário do Comércio de Guimarães, periódico monárquico), Coronel Artur Justino Amado, entre outros. 
Quando aceitou a presidência da Comissão Administrativa sabia que a tarefa que o esperava não iria ser fácil. E não se enganou. Apenas 22 dias após o seu início terminava a Monarquia do Norte. Ao saber da notícia da entrada das tropas republicanas do Porto, Oliveira Bastos saiu apressadamente de Guimarães rumo ao Porto. Ao chegar lá viu que já tudo estava perdido. Decidiu voltar a Guimarães. Ao descer a rua em direcção à estação de S. Bento cruzou-se com centenas de carbonários que faziam o trajecto inverso. Apesar da sua vida estar em risco soube manter-se calmo. Já na estação deitou uma  arma que tinha consigo numa retrete, bem como destruiu a sua identificação. Com algum custo conseguiu regressar a Guimarães...
Em Guimarães tudo parecia tranquilo. Chegando a casa pediu que lhe preparassem uma refeição. É possível que lhe tenha passado pela cabeça que aquela seria a sua última refeição caseira durante os próximos tempos, pois tinha decido entregar-se de imediato às autoridades republicanas. Para não comprometer os seus correligionários nesse mesmo dia queimou toda a documentação relativa à Monarquia do Norte que tinha em sua posse .Antes de se entregar preparou a sua mala com um cuidado especial: não se esquecer da pasta de dentes! Mandou chamar um carro e partiu para Braga, onde se foi entregar ao Governo Civil. Nunca tendo permitido actos de grande violência em Guimarães durante a Monarquia do Norte (e tendo até protegido alguns republicanos durante o Sidonismo) foi de imediato libertado.
Este foi um dia agitado na vida de Oliveira Bastos. O dia 13 de Fevereiro de 1919, o último dia da Monarquia em Guimarães.


Na foto: José Joaquim de Oliveira Bastos.
Nota: Algumas destas informações foram-me transmitidas pelo Dr.José J. Oliveira Bastos, filho de José Joaquim de Oliveira Bastos

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