terça-feira, 9 de outubro de 2012

A lenda que inspirou o filme...


Nascido a 1 de Janeiro de 1812 na Travessa de Trás-dos- Oleiros (actual travessa de Camões), Domingos Florentino da Silva foi o sétimo de nove filhos de Manuel Domingues e de Ana Maria da Silva. O seu pai, natural de Vila Nova de Gaia, veio novo para Guimarães onde casou com Ana Maria da Silva, natural de Mesão Frio e filha de lavradores proprietários. Manuel Domingues foi mestre-pedreiro, taberneiro e proprietário de alguma monta em Guimarães. Decidido a fazer dos seus filhos mais do que ele próprio tinha sido, enviou os dois filhos mais velhos para o Brasil, casou bem a sua única filha que chegou à idade adulta e fez dos seus dois filhos mais novos (Manuel e Domingos Florentino) frades.

Domingos Florentino da Silva nunca terá tido vocação religiosa de nenhuma espécie. Simpatizante do liberalismo foi, desde muito cedo, uma enorme fonte de problemas para os seus pais. Ainda a Guerra Civil que opunha liberais e absolutistas não tinha terminado e já Frei Domingos recebia ordem de expulsão de Guimarães (e reclusão no convento onde professava em Coimbra) por pregar os ideais liberais. Parecia mais talhado para a política do que para o sacerdócio...

Finda a guerra regressou a Guimarães onde foi causador de enormes distúrbios. Em 1836 aderiu à Revolução de Setembro e foi seu acérrimo defensor. Foi pela defesa incondicional dos valores setembristas que se tornou conhecido em Guimarães. De acordo com um cronista da época Frei Domingos “fez-se notável em todas as eleições e com especiosidade na última eleição de Deputados (a 26 de Agosto de 1838) e na última eleição da Câmara e administrador do concelho, chegando a reunir muitos votos para administrador indo na lista dos 5 para o Governo. Não andava de noite, senão carregado de armas e poucas eram as desordens que haviam na vila em que não entrasse. Finalmente era um homem que não tinha qualidade alguma boa”. Nas referidas eleições chegou mesmo a sublevar o Regimentode Infantaria 18, que se encontrava na Praça da Oliveira na altura da contagem dos votos. Frei Domingos entrou na praça com uma clavina numa mão e uma espada na outra e gritou: “leva arriba! Morram os traidores” e logo os soldados do 18 começaram a espancar os cidadãos e, de seguida, os boletins de voto foram queimados.

Para além destes episódios relacionados com a política, Frei Domingos foi também um homem de farras e de amores...Fez parte da Associação Escolástica Vimaranense (Nicolinas) e tomou-se de amores por D. Maria Júlia Vaz Vieira de Melo e Nápoles (filha do Fidalgo do Toural), que "raptou" da casa de seus pais e de quem teve uma filha, D. Maria Antónia Vaz Vieira.

Na noite de 18 para 19 de Julho de 1839, estando perto das Taipas, possivelmente na quinta de seus pais, Frei Domingos meteu-se numa festa onde terá agredido diversas pessoas. Um ferreiro, armado de uma clavina, deu-lhe um tiro no peito, matando-o de imediato. Ao que parece apareceu “morto em ceroulas, e assim esteve todo o dia até ao seguinte em que a justiça foi levantá-lo, estando tão descomposto que causava horror a quem o via. Estava em ceroulas porque assim tinha saído de casa, quando tinha vindo bater nos da festa e tirar-lhes umas moças que eles levavam. O sítio aonde ele apareceu morto foi na Deveza, junto as casas do José Leite e por esse sítio foi aonde principiou a desordem, e aonde ele levou o tiro”.  A sua morte causou  grande satisfação na Vila de Guimarães onde o povo sabia que “um tal verdugo não podia deixar de ter mais cedo, ou mais tarde um tal fim, e por se verem livres de um tão grande opressor”.

Um jornal do Porto defendeu Frei Domingos, afirmando que a sua morte fora um assassinato político e que grandes interesses estavam em jogo. Mas, para a história de Guimarães, Domingos Florentino da Silva será sempre “O Facínora”.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Mais um livro quinhentista de um autor vimaranense...

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Ao que tudo indica, este opúsculo terá sido um dos primeiros livros compostos em Guimarães. É da autoria do Padre João do Valle Peixoto (da antiga família dos Valles Peixotos de Guimarães), homem de letras, que, de acordo com o Padre Caldas na sua obra "Guimarães Apontamentos para a sua História",  "foi o primeiro português, que na universidade da Sajpientia em Roma recebeu as insígnias doutorais em jurisprudência civil, sendo considerado na sua época como jurisconsulto consumado". A obra trata de Direito das Obrigações seguido de considerações do autor.

O Doutor Pe. João do Valle Peixoto foi autor de algumas obras jurídicas (bastante raras) sendo possivelmente a mais significativa o seu "Repertório Jurídico" do qual não se conhece nenhum exemplar, sendo apenas citado pelo jurisconsulto vimaranense Manuel Barbosa nas suas "Remissões às Ordenações do Reino". 


Esta edição não consta do levantamento feito por Francisco Leite de Faria na sua obra "Livros Quinhentistas de Autores Vimaranenses". Ao que parece foi composta em Guimarães em 1547 e impresso em Lisboa, na Oficina de German Galharde, em 1549. É um livro raríssimo adquirido em 2006 pela Biblioteca Nacional ao livreiro Pedro de Azevedo .Pode ser consultado on-line aqui





PS: é de referir, a título de curiosidade, que nesta família floresceram alguns escritores e livreiros nomeadamente João Peixoto do Valle (livreiro, nascido em Guimarães em 1680) e  João do Valle Peixoto Rolla (autor do século XVIII).