Mas, afinal, a que Guimarães chega então D. Maria II?
Podemos dizer sem receio de errar que chega a uma vila que
valia mais pela sua antiguidade e monumentalidade (pensemos nos casos do
Castelo, ruínas dos Paços dos Duques e Largo da Oliveira) do que propriamente
por aquilo que, na época, se considerava serem os atributos de uma cidade
moderna. É claro que D. Maria II reconhece as qualidades inerentes à antiguidade
e importância de Guimarães e as qualidades do seu povo (das quais destaca a
importância do comércio e da indústria). E são esses alguns dos motivos que
evoca para fazer de Guimarães uma cidade. Na Carta em concede a Guimarães o
título de
cidade afirma fazê-lo, e passo a citar: “Attendendo que a mesma Villa desfructa a primazia de ser uma
das mais populosas da provincia do Minho, e a mais florescente em diversos
ramos de industria, à qual são devidas a sua opulência e prosperidade, e as
suas relações commerciais dentro e fóra do Paiz; Attendendo a que a famosa
Villa de Guimarães, sempre Honrada por Meus Augustos Predecessores com
especiaies privilegios, possue as condições e elementos necessarios para
sustentar a dignidade e cathegoria de Cidade”.
Via vicinal de Pinto de Menezes (carregar para ampliar) |
Dona
Maria II deixa a Guimarães uma “distinção” que permitiria que a vila se fizesse
cidade, ganhando mais importância na região e um maior poder reivindicativo
junto do poder central. E é já com o estatuto de cidade que Guimarães começa a
trilhar um longo caminho.
Na década de 50 do século XIX surge em Portugal um período de
grande investimento público e de aposta nos “melhoramentos materiais” que ficou conhecido como “Regeneração” e que se prolongou
sensivelmente até 1868, muito embora algumas das suas sementes viessem a dar
frutos em datas posteriores. Este período é também particularmente importante
para Guimarães, especialmente no plano urbanístico, pois é nesta época que a
Câmara, presidida pelo Comendador Alves Carneiro, decide fazer o levantamento
da planta da cidade, encarregando para o efeito o Eng. Almeida Ribeiro. As
propostas de Almeida Ribeiro viriam a ter um impacto enorme na cidade. É da sua
autoria o projecto de abertura da Rua de Gil Vicente, entre muitos outros
relativos a arruamentos, bem como propostas para a criação de um Passeio
Público, bairro para a classe pobre, etc.
Na sequência do trabalho iniciado por Almeida Ribeiro, é
formada uma “Comissão de Melhoramentos”
que viria a ter uma enorme influência em muito do que de mais importante se fez
em Guimarães no século XIX. De acordo com os estudos da Dra. Maria José QueirósMeireles e do Dr. Mário Gonçalves Fernandes, a Comissão foi instalada pelo Presidente
da Câmara, Visconde de Santa Luzia, e contava com diversos elementos dos quais
se destacam Martins Sarmento, Barão de Pombeiro, Luis Cardoso Martins de Macedo
(mais tarde agraciado com o título de Conde de Margaride), Avelino da Silva
Guimarães (vice-presidente da Câmara) e o jovem Eng. José Taveira de Carvalho
Pinto de Menezes. Estes últimos, Silva Guimarães e Pinto de Menezes, foram os
principais obreiros da Comissão. Na prática a Comissão dedicou-se a resolver os
problemas do abastecimento público de águas e a arranjar e a abrir arruamentos.
Mas, por iniciativa de Avelino da Silva Guimarães e por Pinto de Menezes, foi
também discutida a realização de uma exposição Industrial e Agrícola (discussão
que teve influência na Exposição Industrial de 1884), a criação de lavadouros e
públicos, um plano de iluminação a gás, etc.
Da cabeça de Pinto de Menezes surge ainda um dos projectos
mais fascinantes, pela sua visão de futuro, jamais elaborados em Guimarães: a
abertura de uma estrada vicinal, ligando em volta dos subúrbios da cidade as
estradas de Fafe, Braga, SantoTirso e Famalicão, ligando, depois, a cidade a
esta estrada vicinal. O traçado (desenhado em 1869) corresponde sensivelmente à
actual via rápida (ver figura).
Mas as ideias desta Comissão de Melhoramentos não se ficavam
por aqui. Avelino da Silva Guimarães faria, por esta altura, uma proposta que
visava criar uma biblioteca pública, científica e literária, mas também
industrial e agrícola (como bem refere o Dr. Mário Gonçalves Fernandes, a
proposta viria a concretizar-se 12 anos depois, com a criação da Sociedade Martins
Sarmento, instituição de que Avelino da Silva Guimarães foi fundador e
Presidente).
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